sábado, 10 de janeiro de 2009

Meu anjo

Meu anjo tem o encanto, a maravilha.
Da espontânea canção dos passarinhos;
Tem os seios tão alvos, tão macios.
Como o pêlo sedoso dos arminhos.

Triste de noite na janela a vejo.
E de seus lábios o gemido escuto.
É leve a criatura vaporosa.
Como a frouxa fumaça de um charuto.

Parece até que sobre a fronte angélica.
Um anjo lhe depôs coroa e nimbo...
Formosa a vejo assim entre meus sonhos.
Mais bela no vapor do meu cachimbo.

Como o vinho espanhol, um beijo dela.
Entorna ao sangue a luz do paraíso.
Dá morte num desdém, num beijo vida,
E celestes desmaios num sorriso!

Mas quis a minha sina que seu peito.
Não batesse por mim nem um minuto,
E que ela fosse leviana e bela.
Como a leve fumaça de um charuto!

(Autoria: Álvares de Azevedo